Na maior parte dos filmes as princesas ou heroínas possuem um poder especial ou ainda se deparam com algo mágico para superar seus grandes desafios. Parece ser muito dificil “vencer” sem tais elementos não é?
Em Encanto, o “dom” ou poder sobrenatural também está presente, mas não para Mirabel, a personagem que protagoniza a trama e representa a humanidade “sem filtros” que há em cada um de nós.
Encanto é também um filme sobre famílias (im)perfeitas como todas são. É sobre sentir-se ou não aceito e também sobre o peso das expectativas em nossas vidas.
Na familia Madrigal todos os membros receberam dons especiais como por exemplo: força, empatia pela natureza, alta capacidade de escuta, dentre outros. O fato de Mirabel não ter ganho nenhum destes super poderes causou uma preocupação na família e um estranhamento de todos ao seu redor, inclusive por parte dela mesma.
No início da história é provavel que fiquemos intrigados e até aflitos com o fato da Mirabel ser a única a não ter um dom e também com as situações em que se sente deslocada em sua própria família e comunidade. É tentador torcer para que algum milagre ocorra ao longo da trama possibilitando que ela receba um dom especial igual ou até superior ao dos demais.
Mas o filme vai bem além ao nos provocar a refletir sobre o peso na vida dos que receberam as habilidades especiais e as expectativas criadas sobre eles. Será que gostariam de ser sempre assim? De fazer tudo que esperam deles? De não poder em nenhum momento agir simplesmente como humanos comuns?
Em nossa sociedade é possível pensarmos o quanto estes “dons” poderiam ser associados as diversas expectativas e cobranças colocadas sobre as crianças para que possam um dia “vencer na vida”. Sobre muitas delas há um pesado fardo para que atendam os anseios sociais.
Tal como no filme, espera-se que muitos de nós já tenhamos conosco as diversas habilidades ou “softs skills” tão desejáveis no mundo corporativo.
Se as crianças manifestam grandes habilidades desde muito cedo, é como se não pudessem mais falhar para não frustrar as altas expectativas, muitas vezes manifestadas pelo excesso de elogios que não deixa de ser uma cobrança velada e adocicada.
E quem não manifesta alguma habilidade especial dentro de seu grupo social? Nesse caso, é como se houvesse algum problema, algo que precise ser investigado por fugir do “padrão esperado”.
Cabe destacar também a beleza das cenas e personagens com cabelos cacheados, crespos e até mesmo curtos, diferente da maior parte das princesas da Disney, como bem observou minha filha.
De início a nossa curiosidade sobre o filme foi a partir da música “Não falamos do Bruno“. Por que o Bruno incomodou tanto a familia Madrigal a ponto de não poder ser mais lembrado e nomeado? Após ver o filme, este também passou a ser um ponto interessante para reflexão.
A trilha sonora tem letras interessantes e é muito gostosa de ouvir. A seguir algumas recomendações:
- Sobre o peso de ter que ser sempre “forte” vale ouvir a música Estou nervosa
- Sobre sentir-se deslocada na música A espera de um milagre
- Sobre evitar pensar no que nos incomoda: Não falamos do Bruno
- Sobre famílias, ouça a família Madrigal
- Sobre a pressão de ser perfeita na música Que mais vou fazer
- Sobre a força da diversidade e união na música Vocês , afinal “Milagre é ter vocês, não os dons”
A seguir o trailer do filme:
Tentei não contar o filme por aqui, mas indico também estas outras análises:
- Encanto é um deleite visual com um dos textos mais ricos da Disney no Omelete
- Crítica: encanto no site estação nerd
- Crítica: encanto em observatório do cinema
- Encanto ou fa família imperfeita da Disney no El País